segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

História social da elite gaúcha em livro sobre bairro de Porto Alegre


Se você pensa que o bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, é apenas o Parcão, o Hotel Sheraton (foto), o Moinhos Shopping, a Padre Chagas e a Calçada da Fama, veja só o elenco que morou ou esteve ligado ao bairro em mais de 100 anos de sua existência:

A.J. Renner, Getúlio Vargas, Érico Veríssimo, Leonel Brizola, Ildo Meneghetti, João Goulart, Caetano Veloso, Daiane dos Santos, Clodovil, Thomaz Koch, Castelo Branco, Dom João Becker, Dom Vicente Scherer,Flores da Cunha, Alberto Bins, Elis Regina, Jair Rodrigues, Miriam Makeba, João Wallig, Paixão Côrtes, Breno Caldas, Maurice Chevalier, Herman's Hermits, João Gilberto, Maria Bethânia, Abramo Eberle,Florêncio Ygartua, Loureiro da Silva, Frei Betto,Pablo Komlós, Oswaldo Aranha, Lindolfo Collor, Antônio e Laura Mostardeiro...

Estes são apenas alguns dos mais de 250 personagens cujas histórias são contadas no livro Moinhos de Vento – Histórias de um bairro de Porto Alegre. Escrito por mim, Carlos Augusto Bissón, a obra é um lançamento da Editora da Cidade (Secretaria Municipal de Cultura) e do Instituto Estadual do Livro (IEL). Não se trata, porém, de um trabalho cujo interesse se restringe apenas àquela região da cidade. Pelo contrário, os assuntos abordados em Moinhos de Vento – Histórias de um bairro de Porto Alegre dizem respeito à história de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul.

Nas 244 páginas da obra, 20 das quais com fotos, mostro, entre outros assuntos, que o Moinhos se tornou uma confluência, nunca mais repetida na cidade, do dinheiro “novo” com o dinheiro “velho”. Membros de famílias célebres no Estado – Assis Brasil, Chaves Barcellos – conviviam no bairro com os criadores e proprietários de marcas empresariais famosas (Varig, Ipiranga, Panvel, Foernges, Taurus, entre outras). O bairro foi cenário dos agitados acontecimentos pré e pós- 64, já que, nesta época, o centro do poder do Rio Grande do Sul estava instalado ali: o Governador Ildo Meneghetti, seu antecessor, Leonel Brizola (na foto, com a mulher Neuza e os três filhos), o presidente da Fiergs, Plínio Kroeff, e o da Farsul, Oscar Carneiro da Fontoura. E, quando estava em Porto Alegre, o presidente João Goulart se hospedava no apartamento da mãe, Vicentina (na foto, ambos estão no imóvel do Edifício Santa Luiza, na 24 de outubro).

MODERNIDADE E TRADIÇÃO NO MOINHOS

Se seu passado é fulgurante de história e tradição, o Moinhos de Vento foi pioneiro, também, em certos aspectos vinculados à modernidade que se tornaram, posteriormente, rotineiros em Porto Alegre. A primeira piscina particular da cidade foi construída no bairro, assim como a pioneira galeria comercial situada fora do Centro. O Moinhos também foi sede das inéditas lojas dedicadas exclusivamente à venda de CDs e à decoração de ambientes. Os Edifícios Arachane, Floragê e Jorge V abrigaram os maiores apartamentos construídos na capital em suas respectivas épocas. Além disso, duas inovações comportamentais surgidas no bairro estão hoje incorporadas de tal forma ao nosso cotidiano que nem percebemos o impacto revolucionário que causaram em sua época. Foi no Moinhos (Rua Quintino Bocaiúva) que Fernando Mendes (Fernandinho) lançou um dos primeiros, senão o primeiro, salão de cabeleireiros masculino do Brasil. E a 24 de outubro era o endereço da Academia do Parque, que disseminou em Porto Alegre o culto aos exercícios e à forma física vigente até hoje.

E há histórias que hoje parecem inacreditáveis, como as corridas de carros no Parcão, nas quais os rapazes ficavam nus em cima dos veículos. O local era um grande point da juventude nos anos 70, que se reunia ali às centenas para conversar e namorar em voltas dos trailers de cheeseburger.

Além disso, Moinhos de Vento – Histórias de um bairro de Porto Alegre narra a construção do Hipódromo, do Estádio do Grêmio e da Hidráulica. Outra menção importante são os grandes shows nacionais e internacionais promovidos pelo Grêmio Náutico União e Associação Leopoldina Juvenil: Elis Regina e Jair Rodrigues (foto), Caetano Veloso, Maria Bethânia, Brenda Lee, Domenico Modugno, Maurice Chevalier, Herman's Hermits etc. O livro também conta a história de três assassinatos que abalaram a cidade: o fantasmagórico “crime da Lagoa dos Barros”, o chamado “ Caso Margit Kliemann” e a morte de José Antônio Daudt.
Os elogios a Moinhos de vento - Histórias de um bairro de Porto Alegre se sucedem. O historiador Voltaire Schilling afirmou que a obra é “uma história social da elite gaúcha escrita com notável fluência, na qual, tendo como ponto de referência um bairro de Porto Alegre, é retratada toda a grandeza de um Rio Grande do Sul que o vento levou”. Por sua vez, o articulista Jaime Cimenti escreveu no Jornal do Comércio (Caderno Viver, 24/10/2008) que "a longa e cuidadosa pesquisa resultou numa obra que já nasce clássica, referencial e inspiradora de novos estudos". E Luís Augusto Fischer considerou o livro uma “preciosidade”. Ele é “bem concebido”, escrito num “português culto” e apresenta uma “leitura histórica de fôlego”, a qual “não dá para parar de ler” (Zero Hora, Segundo Caderno, página 6, 28/10/2008).
O livro está sendo vendido nas principais livrarias de Porto Alegre (sobretudo as dos shoppings) ao preço médio de 25 reais. Não deixe de ler !

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