sábado, 13 de novembro de 2010

O Senado Federal (quem diria) está promovendo a cultura nacional


Lembram-se da gráfica do Senado Federal ? Aquela que, nos anos 90, era suspeita de desperdiçar o dinheiro público imprimindo o material de campanha dos nobres senadores, inclusive, supõe-se, do então (1994) candidato à Presidência da República, Fernando Henrique Cardoso ? Pois é: ela, como o Brasil, parece ter mudado, e muito. Não se sabe se a gráfica continua atendendo, prioritariamente, aos interesses eleitorais dos parlamentares. Agora, é incontestável que ela, hoje, vem prestando um serviço inestimável à memória nacional através das Edições do Senado Federal. Trata-se de mais de 130 títulos clássicos, cujo primeiro vislumbre na enorme barraca instalada pela instituição na atual Feira do Livro de Porto Alegre (entre pela Andradas e dobre no primeiro vão à direita) provoca um pensamento reconfortante: pelo menos, o Senado está servindo para alguma coisa...e de importância fundamental para quem quer conhecer a História do Brasil.
São obras de caráter histórico-memorialístico que estavam relegadas às bibliotecas de nossas universidades, já que as editoras particulares não têm interesse em reeditá-las. Contudo, elas constituem referência bibliográfica fundamental para quem quiser pesquisar sobre a trajetória brasileira do Descobrimento à República. Todo o candidato a historiador já se deparou, por exemplo, com os nomes de Capistrano de Abreu, Pandiá Calógeras e Francisco Varnhagen. Eles estão à venda na barraca por preços que vão de 20 reais (os dois primeiros) a 30 (Varnhagen). E há também Oliveira Viana, cujo O ocaso do Império sai por inacreditáveis 10 reais.
A historiografia marxista sempre reconheceu o valor documental, descritivo e factual do quarteto acima citado, mas sempre os considerou historiadores conservadores. Contudo, ninguém imputaria tal pecha às opiniões de Eduardo Prado. Seu livro A ilusão americana foi lançado no final do século XIX, vendeu muito e foi apreendido no mesmo dia pela polícia. Motivo: Prado já defendia, naquela época, a tese de que o Brasil deveria ser autônomo em relação aos estrangeiros. Ele dizia, por exemplo, que a fraternidade norte-americana era um blefe. Tampouco se chamaria de reacionário consumado a Joaquim Nabuco, um dos maiores intelectuais brasileiros do tempo do Império. O Senado editou quatro de suas obras, oferecidas a preços que vão de 10 a 15 reais: O Abolicionismo, Campanha Abolicionista no Recife, Balmaceda e A intervenção estrangeira na Revolução de 1893. E quais são os temas de Nabuco, além da questão da escravatura? Ora, Presidencialismo, Parlamentarismo e relações internacionais. Tudo atualíssimo, não é ? Ele chega até a insinuar a necessidade de uma reforma agrária em Campanha Abolicionista no Recife, escrito em 1885...
Há, porém, mais, muito mais. Todo jornalista ouviu falar em Hipólito José da Costa, fundador do primeiro jornal brasileiro (Correio Brasiliense) e nome do nosso Museu de Comunicação Social. Pois ele comparece com Diário de minha viagem à Filadélfia(1798-1799), onde relata suas impressões da nascente república norte-americana. Há Joaquim Manoel de Macedo, autor do terror escolar de nossa adolescência, A moreninha, mas que exercita bem seus dotes de cronista em Memórias da Rua do Ouvidor e Um passeio pela cidade do Rio de Janeiro. E como não negar o acerto do Senado em relançar essas obras se O Velho Senado, incursão jornalística do nosso gigante das letras, Machado de Assis, pode ser adquirido por irrisórios cinco reais ? Até uma obra capital para se conhecer os primórdios de nosso estado, Viagem ao Rio Grande do Sul (Auguste Saint-Hilaire) está disponível lá. Por fim, o Senado Federal também reeditou a monumental História da Literatura Ocidental (foto), do austríaco radicado no Brasil, Otto Maria Carpeaux (1900-1978). É a maior obra do gênero já publicada no país. São mais de 2.000 páginas, divididas em quatro grossíssimos volumes, os quais são oferecidos a 200 reais. É o título mais caro da barraca, mas, garanto, vale cada centavo. Além de cobrir toda a aventura literária humana, fundamentando-a dentro de um quadro histórico-cultural bastante vívido, Carpeaux tem uma prosa luminosa, acessível a qualquer colegial razoavelmente bem informado.
Todo esse tesouro bibliográfico foi publicado pelo Senado, imaginem, durante as gestões dos peemedebistas Garibaldi Alves Filho e José Sarney (que faz a apresentação de alguns títulos, entre os quais O Velho Senado). Não se espantem, por favor. Como dizia o título de um filme quase tão antigo quanto essas obras, mas sem o mesmo valor cultural, do lodo também nasce uma flor. Pois vá correndo até a Feira do Livro, antes que ela feneça. Aliás, alguns desses livros já foram todos vendidos.Se não conseguir chegar lá até 15/11, vc tem possibilidade de adquirir esses clássicos pelo fone (61) 3303-3579 ou na livraria virtual (www16.senado.gov.br/livraria. O e-mail para contatos é livros@senado.gov.br . Aproveite !

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